CARONA COM O VENTO

– Uma reflexão juvenil –

                Discordo! Não sou vagabundo por viver o ócio; aliás, minha vida está longe de ser ociosa. Apenas quero ter o meu momento de acompanhar o caminho das formigas, observar as pessoas, ver o filme anunciado, ler o livro indicado, vagar livre e sem relógio pela cidade e escutar o intenso ruído da vida.

– Me deixem em paz! Essas são as minhas escolhas.

                 Se chego tarde e durmo muito: – vagabundo!

                Se faço ou se deixo de fazer: – vagabundo!

                Atropelam-me!

                Os meus hábitos e pequenos prazeres agridem os meus pais. Há um padrão de comportamento concebido por eles e eu estou fora dele. Mas, e daí?

    Ambos médicos, querem que eu faça vestibular pra medicina. Mas se eu for engenheiro ou advogado, tudo bem; vá lá! E eu talvez queira ser filósofo ou historiador e, mesmo assim, não é pra já. Preciso de um tempo; tenho coisas mais importantes para pensar e decidir.

               Outros parentes mais próximos dizem que eu sou revolucionário, contraditório e, claro, vagabundo!

     Engraçado… alguns professores já me disseram que eu sou criativo, polivalente e inteligente. Mas tudo isso são rótulos, somente rótulos! Não acredito em nada disso. Penso que sou um pouco de cada uma dessas coisas e cada uma em seu tempo. Menos vagabundo!

               Não vou passar despercebido por essa vida, mas dispenso a notoriedade; só quero respeito. Sei que tenho muito a dar ao mundo, pois convivo com os meus sonhos. Mas eles são só meus e ninguém os imagina.  

                Não consigo que me entendam; aliás, nem procuro explicar muito, porque isso é papo de vagabundo! Os meus velhos usam e abusam do poder do dinheiro para me pressionarem; e eu rebato com o dever do sustento para me proteger. Pura chantagem. Os dois argumentos são perversos, mas sei que o meu é mais forte e eles não conseguem o derrubar. É a minha atual arma a serviço dessa batalha.

                Talvez uma viagem. Grande ideia! Preciso apenas de algumas roupas, um pouco de comida e uns trocados pra seguir em frente. Sem mais exigências. Como não pensei nisso antes? Pode ser uma saída. Pego carona com o vento e me vou por aí. Até onde eu poderia chegar? Sei lá…