GREVE NA ARCA

Comédia política em 3 atos

Personagens:

  • Noé – Capitão da Arca. Figura paternalista, enrolado, promete mais do que cumpre.
  • Leão – Líder sindical dos bichos. Gosta de discursos inflamados.
  • Girafa – Porta-voz das “elites herbívoras”. Reclamona, elegante e dramática.
  • Hipopótamo – Base popular. Só pensa em comida.
  • Papagaio – Porta-voz oficial do movimento. Fala pelos outros (às vezes, sem autorização).
  • Macaco – Agitador político. Adora confusão e sarcasmo.
  • Camelo – Presidente da Comissão de Greve. Extremamente burocrático.
  • Zebra, Pinguins, Galinha, Gambá, Elefantes, Coelho – Figurantes representando diversas “categorias trabalhistas animais”.

ATO I – O DESPERTAR DA SELVA ORGANIZADA

(Luzes acendem. Barulho de chuva ao fundo. Animais espalhados pelo convés. Girafa olha para cima, indignada.)

Girafa (com pose afetada) — Três dias sem alface fresca. Três! Eu não entrei nesta arca pra viver de capim de segunda categoria.

Hipopótamo (com a barriga roncando) — Capim de segunda? Eu tô comendo é tapete molhado.

(Murmúrios se espalham. Camelo sobe num caixote com cara de sindicalista veterano.)

Camelo — Companheiros e companheiras! Chega de sofrer calado! O contrato arca-animal foi assinado com promessas: ração justa, água limpa e dignidade zoológica!

(Gritos de aprovação. Leão entra com andar teatral.)

Leão (orador nato) — É hora de unir rugidos, mugidos, coaxos e piados! Nós não somos bichos de circo, somos… CLASSE ORGANIZADA!

(Aplausos com cascos e asas. Papagaio assume o “microfone” — um galho seco.)

Papagaio (inflamado) — Basta de desigualdade! Enquanto uns dormem em camarotes secos, outros afundam na lama do porão!

Gambá (ofendido) — Ei, a lama é minha suíte. Respeita minha área de risco!

Macaco (rindo) — E ainda chamam isso aqui de “arca da salvação”. Tá mais pra “arca da precarização”.

(Explosão de risadas e aplausos.)

Leão — Proponho greve geral. Até o último miado, piado ou rugido será silenciado. Sem concessões!

Papagaio (repetindo) — Sem concessões!

(Todos gritam: “GREVE! GREVE! GREVE!”)

(Luzes descem com som de trovões.)

ATO II – O SILÊNCIO QUE GRITA

(Cena: Noé acorda na cabine, penteando a barba. Estranha o silêncio.)

Noé (confuso) — Estranho… ninguém cacareja, ninguém ruge… ou será que finalmente respeitaram meu horário de sono?

(Sai da cabine e vê faixa no mastro: “SEM PASTO, SEM CANTO”. Elefantes bloqueiam a rampa. Pinguins fazem piquete. Macaco balança cartaz: “DILÚVIO NÃO É DESCULPA”).

Noé (tentando negociar) — Meus queridos, entendam… estamos numa crise hídrica global… digo… universal! Não há mercado aberto!

Papagaio (debatendo) — Crise hídrica para quem, Noé? Para você que tem estoque de pão seco no camarote? Ou para nós, que bebemos água da poça?

Girafa (dramatizando) — Água barrenta! Eu, uma herbívora refinada, bebendo caldo de lama!

Macaco (sarcástico) — É a meritocracia líquida, Girafa. Cada um bebe o que consegue alcançar.

(Risos da plateia animal.)

Leão (imponente) — Estamos unidos. E um rugido coletivo é mais forte que um dilúvio.

Noé (coçando a barba) — Tá bom… vamos conversar. Mas sem piquete no banheiro, por favor.

(Luzes diminuem. Tensão cômica. Música de fundo estilo “negociação sindical”.)

ATO III – O ACORDO HISTÓRICO

(Cena: Cozinha improvisada. Animais em volta da mesa. Camelo com papel e pena. Coelho apresenta um plano.)

Coelho (animado) — Os pássaros caçam sementes, os macacos colhem frutas nas janelas, os elefantes bombeiam água da chuva, e…

Papagaio (interrompendo) — …e o Noé cozinha!

(Silêncio dramático. Todos olham para Noé.)

Noé (desesperado) — Cozinhar? Eu? Eu só sei abrir latinha de sardinha celestial!

Macaco (rindo) — Vai virar chefe de cozinha ou chefe de crise. Escolhe.

(Cena seguinte: Noé de avental, mexendo uma enorme panela de sopa. Os animais fiscalizam. Música de vitória sindical.)

Leão (discursando) — Companheiros, conquistamos dignidade zoológica! Nenhum bicho passará fome ou sede.

Papagaio (ecoando) — E nenhuma promessa ficará impune!

(Risos. Zebra encara a hiena mastigando ruidosamente.)

Zebra (irônica) — Claro, dignidade… exceto o barulho dessa mastigação, que continua infernizando.

(Todos riem.)

NARRADOR (voz em off) — E assim, no meio de um dilúvio, a primeira greve sindical da história foi vencida…

(Cortina fecha. Música de comício com batuque.)

1 comentário em “GREVE NA ARCA”

  1. Silvio Sampaio

    Gostei da historia! Com pequenas adaptacoes eu gostaria de ver este texto encenado para criancas . Seria uma aula politico- infantil-educativa contra ao ” sindicalismo militante!!!!

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