O FANTASMINHA QUE NÃO SABIA ASSUSTAR

No alto da colina, havia uma casa antiga, com janelas rangendo e portas que batiam com o vento. Todo mundo na cidade dizia que ali morava um fantasma. E era verdade: o seu nome Bento, e ele era o fantasma menos assustador do mundo.

Bento não gostava de dar sustos, nem sabia fazer “BUUU” direito. Quando tentava, saía algo como “buuu…uin?”, tão engraçado que até os morcegos riam.

Ele também tinha esquecido como fazer para atravessar paredes. Quando tentava, acabava batendo o nariz e acabava usando as portas como todo mundo. Desajeitado esse tal de Bento, – comentavam os ratinhos do sótão.

Mas Bento tinha um talento especial: ele adorava brincar.

Todas as tardes, quando o sol iluminava a colina, as crianças da cidade subiam para brincar no gramado em frente à casa antiga. Elas pulavam corda, jogavam bola e soltavam pipas. E, escondido atrás da janela, Bento observava tudo com vontade de participar.

Certo dia, uma menina chamada Clara percebeu um brilho diferente vindo da janela daquela casa. Não ficou com medo, mas sim, muito curiosa.

– Tem alguém aí? — perguntou ela, aproximando-se da porta.

Bento apavorou-se. Fantasmas não deveriam ser descobertos! Ele tentou desaparecer, mas tropeçou no tapete e caiu rolando até aquela porta que se abriu com estrondo.

Clara se assustou … por dois segundos. Porque, quando viu um fantasminha baixinho, gorducho, com lenço engraçado no pescoço e olhos redondos como tampinha de garrafa, ela caiu na risada.

– Você é um fantasma? – perguntou Clara, limpando as lágrimas de tanto rir.

Bento ficou vermelho de vergonha.

– Eu… tento ser – respondeu ele. – Mas acho que não sou muito bom nisso.

Todas as crianças se aproximaram e, num piscar de olhos, Clara sorriu e perguntou: – você quer brincar com a gente?

Bento deu três cambalhotas pra trás de tanta alegria e, assim, começou a amizade mais inesperada da cidade.

Bento descobriu que era ótimo em pular corda porque podia flutuar, e, ainda, que dava excelentes empurrões na gangorra. Também, Bento deixava as pipas dos seus novos amigos voarem mais alto, empurrando-as com as suas mãos invisíveis. E, quando jogava esconde-esconde… ah, ninguém ganhava dele! Sumia nas sombras, aparecia atrás das árvores e ria baixinho quando alguém passava por perto.

Logo, as tardes na colina se tornaram mágicas. As crianças já não tinham medo da casa antiga; ela agora era o ponto de encontro da turma. E os adultos, vendo a alegria dos pequenos, pararam de contar histórias de terror sobre o lugar.

Um dia, Clara disse: – Bento, você não precisa assustar ninguém para ser um fantasma de verdade.

– Não? – perguntou ele, surpreso.

– Claro que não! O importante é o que você faz de melhor. E você faz todo mundo feliz.

Bento nunca tinha pensado nisso… mas adorou! Flutuou até o alto da colina e deixou o vento carregar seu riso pela cidade inteira.

Desde então, se você ouvir uma porta bater ou uma risadinha no meio da noite, não se assuste;
pode ser só o Bento, o fantasminha que não dá sustos, mas adora uma boa brincadeira.

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