PROMESSAS DE CAMPANHA

     Edilon candidatou-se à vereança daquele pequeno lugarejo. O partido político que o abrigara era chamado de nanico e nanica também era a sua verba de campanha. Restou-lhe pedir votos de porta em porta. Em comícios participou muito pouco e sempre aproveitando a popularidade do candidato a prefeito do seu partido. Administrava o cemitério e, também, a única funerária da cidade; por isso, carregava a irônica alcunha de “seu Funério”.

Bastante conhecido na região, com personalidade dócil e prestativa, era uma mistura de um bugre local e de uma descendente de alemães. Já meio velho, meio gordo e meio careca, não casou, mas tinha um filho de uns quinze ou dezesseis anos, seu ajudante nos serviços funerários; o adotara desde cedo após ser abandonado na porta de sua casa.

O candidato prometia o quanto lhe vinha à cabeça; queria ser vereador a qualquer custo. Espelhando-se nos grandes centros urbanos, prometeu que apresentaria um projeto de lei para a população utilizar-se de transporte público gratuito aos domingos; mas seriam usados cavalos a serem adquiridos pela Prefeitura. Perguntado por qual motivo não haveria carroças, respondeu com firmeza que “os equinos da região precisavam se mexer, pois estavam sem qualquer serventia”.

Seu Funério também prometeu descontos especiais na compra de caixões em sua funerária, bonitos e entalhados em madeira de lei, além da condução gratuita do féretro ao cemitério para os seus eleitores.

Desesperado pela baixa quantidade de simpatizantes até então, o candidato saiu espalhando que forneceria um cento de salgadinhos e docinhos em cada velório ocorrido durante todo o tempo de seu mandato; mas despertou muito pouco interesse.

     Insistente, seguia firme em sua campanha, mas não estava sendo bem recebido; de cemitério e funerária as pessoas queriam mesmo era distância!

Certa feita, seu Funério foi impedido de entrar na casa de um eleitor sob a justificativa de que “quem não é visto, não é lembrado”. Não desanimou: imprimiu e distribuiu santinhos com a sua caricata fotografia, e, no verso, escreveu:

Consultor para assuntos fúnebres. Vote em Seu Funério para Vereador – você ainda precisará dele.

     A campanha ia se arrastando e faltava pouco mais de um mês para as eleições. Precisaria de ao menos uns cem votos para se eleger e suspeitava ainda não os ter naquele município de mil e trezentos votantes. 

     Próximo às eleições, teve uma excelente ideia para a sua campanha: prometeu doar cinquenta terrenos em área urbana aos seus primeiros cinquenta eleitores; bastava que se comprometessem por escrito a nele votar. Impressionante! A partir daí despertara enorme interesse na população. Enfim, teve a visibilidade tanto sonhada. Dona Maria, uma das mais respeitadas beatas daquele lugar, foi ter com ele um dedo de prosa a fim de saber se garantiria o quanto prometera. Não teve dúvidas; sacou de sua pastinha de candidato um documento sob o título “Compromisso de Campanha” e lhe disse com voz firme e tom verdadeiro:

– Sendo eleito, Deus me castigue se eu não lhe garantir o melhor dos terrenos.

      Dona Maria assinou de pronto e nada mais foi preciso fazer; a notícia se espalhou. Dezenas de pessoas o procuraram a fim de conseguirem um terreno para as suas futuras moradias; até algum tumulto ocorreu às portas da funerária e o seu filho teve de organizar a fila por ordem de chegada.

            No dia das eleições lá estava o candidato com o seu carro fúnebre, oferecendo carona às pessoas para não se atrasassem às urnas.

            Foi eleito com folga!

            Dia seguinte a sua posse, o agora Vereador Edilon M. da Silva foi cobrado pelos cinquenta eleitores contratantes dos tais terrenos prometidos. De pronto, mostrou a cada um deles um mapa da localização dos diversos lotes de terra prometidos. Todos os terrenos, dispostos lado a lado, possuíam exatos seis metros quadrados, localizados em área nobre do cemitério em sua parte mais alta, ensolarada e com bonita vista para o campo.  

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