Dona Filomena, ou Filó, como era chamada, teve sua vida recheada de decepções, desamores e tristezas, mas, o que vou lhes contar pode até parecer mentira, mas não é!
Quinta filha de uma enorme prole, Filó não conheceu o pai e pouco teve o carinho da mãe que faleceu quando ela tinha apenas três anos. Foi criada pelos irmãos mais velhos, alguns parentes e até por vizinhos, pulando de uma casa a outra. Cresceu pobre e virou-se como pode.
Filó deixou a virgindade para trás aos doze anos e, a partir daí, muitas outras experiências foram se acumulando. Na adolescência e na vida adulta, viveu com alguns homens, foi traída, apanhou, bateu e traiu, mas nunca engravidou. Ter filhos era o seu maior sonho, porém, nunca conseguiu, após tantas tentativas.
Agora, aos 55 anos, mora sozinha, lava roupas pra fora e cozinha quentinhas, vendendo-as pelo bairro. Dá pro gasto. Por vezes, até recebe um ou outro namorado em sua casa, mas não quer mais saber de “juntar os panos”.
A essas alturas da vida, apenas administra a tristeza e vai levando.
Foi então que, estranhamente, começou a ter enjoos, sonolência, desejos, aumento da barriga e das mamas, dentre outros indicativos da gravidez. Aos 55 anos?
– Estou grávida, meu bom Deus, tu ouviste as minhas preces!
Uns dois ou três meses se passaram e, enfim, chegou o dia da consulta médica e exames no posto de saúde. Queria saber o sexo e se estava tudo bem com o nenê, e pouco se importava quem era o pai. Sua barriga havia crescido um tanto a mais e seus seios estavam doídos.
Primeiramente, Filó fez coleta de sangue e urina. Logo após, foi conduzida para a sala de ultrassonografia.
– Se for menino vai Joaquim; se for menina, Tereza, dizia Filó para a médica.
– Dona Filomena, falou a médica, após realizar o exame. Preciso ter uma conversa com a senhora, mas peço que tenha muita calma.
– O que houve com o meu bebê? Algum problema? Fala logo!
– Não, Dona Filomena. Na verdade, o exame de imagem demonstrou que não há um bebê dentro do seu útero…
Quando a médica foi continuar a conversa, Filó deu um pulo, apontou para a sua barriga e perguntou aos gritos e em tom ameaçador:
– Então, o que é isso que eu tenho aqui dentro? Uma melancia? A senhora é médica mesmo?
Filó saiu de lá batendo a porta, esbravejando e esfregando a sua barriga.
Voltou pra casa enfurecida e decidida a ter o filho nas mãos da amiga parteira, vizinha que havia lhe oferecido os seus serviços.


