RODA VIVA

– É uma “fria”, Maurício! Não te mete com mulher casada.

           Assim exclamou Marcos, meu sócio e melhor amigo, após ter-lhe confidenciado a aventura extraconjugal a qual estava envolvido.

     Relacionamento a três é complicado; mas encarei. Não conseguia evitar. O seu marido, Marcelo – só grosserias. Exausto dos seus fracassos, Márcia era quem suportava as agressões daquele babaca.

     Foi lá. no colégio das crianças, as deles e as nossas, quando nos vimos pela primeira vez em reunião semestral. Marta, minha mulher, atenta, cuidava de perguntar à professora como estavam os meninos. E eu cuidava Márcia. Nossos olhares se cruzaram várias vezes. Pareceu-me triste; seus gestos eram suaves, sua voz meiga e o seu corpo uma escultura. Em nosso esconderijo, um flat alugado, onde tudo começara.

     Há muito não amava Marta, mas os filhos, amigos, família, enfim, todos esses ícones sociais levavam-me a manter as aparências.

     Marcos – esse sim, um cafajeste! Meu amigo? Quarenta anos, solteiro, corpo atlético e garanhão. Marta e eu nos divertíamos muito com suas histórias e senso de humor. Era assíduo em nossa casa; durante anos trabalhávamos juntos. Como é que, preocupado em manter o meu segredo, poderia imaginar Marta traindo-me com Marcos? Eles não sabiam que eu sabia e ninguém me contou. Vi nos olhos de Marta; vi no jeito de Marcos. Encontraram-se numa praça próxima à nossa casa; Marta entrou em seu carro, beijou-o e foram para um motel. Segui Marcos; à tarde, ele costumava sair da empresa para atender clientes. Marta, com frequência, ia ao supermercado, ao shopping ou à academia. Naquela mesma noite, por sarcasmo ou talvez por revanche, transei com Marta. E ela de novo foi convencional. Como seria com Marcos?

     Márcia telefonou-me nervosa; disse precisar me ver com urgência. Aguardava-me impaciente em nosso covil. Aos prantos, contou-me ter lido uma mensagem no celular do Marcelo a qual Melissa, prima de Márcia, teria combinado com ele um encontro porque o seu marido, Mário, diga-se, amigo de infância de Marcelo, fora viajar.

    Inacreditável! Enquanto Márcia e eu nos esbaldávamos na alcova, Melissa, esposa de Mário, transava com Marcelo, o babaca! Marta, por sua vez, deliciava-se com o meu “melhor” amigo, Marcos.

    Agora já éramos oito, mas ninguém ficou com ninguém.

    Marcos, meu “ex” amigo, não esquentou banco; usou e largou Marta.

Marta foi morar com sua mãe e levou as crianças.

Márcia não aceitou a traição. Amargurou-se, perdeu o brilho e o tesão;

Marcelo conseguiu uma transferência para o interior e nunca mais soube dele.

    Melissa segue por aí, talvez em busca de outro parceiro.

    Mário “saiu do armário” e assumiu ser gay.

    Marcos vendeu a sua parte na empresa para o meu novo sócio Moisés.

    A propósito, Moisés é marido da Mônica, uma loira muito gostosa e cheirosa!

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