Eu dormia profundamente e sonhava. Quase sempre eu esquecia o meu sonho logo ao acordar, mas, naquela noite…
Ele estava ali, me olhando – ou não -, mas parado em frente à minha cama. O corpo era parecido como de uma pessoa, mas a cabeça não. Essa tinha um formato de uma laranja ou até um pouco menor, talvez como uma ameixa. Não havia orelhas, tampouco nariz, olhos e boca.
Dei um salto, sentei-me na cama e peguei meu travesseiro em posição de ataque ou de defesa, quando daquela estranha cabeça saiu uma voz bem nítida, pedindo para eu me acalmar e que logo explicaria a razão de sua visita.
– Não tenha medo; venho em paz em nome do meu povo e preciso lhe fazer algumas perguntas. Você foi o escolhido para nos ajudar a entender os terráqueos, seus costumes e suas atitudes.
Ainda em posição de ataque ou de defesa, respondi:
– Mas o que você quer saber de mim?
– Não tenho muito tempo até o meu retorno, mas preciso que me descreva em cinco minutos como é a humanidade. Nos ajude; isso é muito importante para nós.
– Sério?
– E em cinco minutos? Caramba…
Enfim, jamais imaginei conversar com um alienígena ou um ET, mas agora ele estava ali, pedindo a minha ajuda. Não, não estava sonhando, era real e eu senti que precisava ajudá-lo. Desmobilizei minha posição de guarda, olhei-o em busca de um contato visual e passei a falar em direção àquela figura.
– Ora, como posso descrever a humanidade em tão pouco tempo?
– Bem, vamos lá:
Para ter o que comer, a humanidade já foi bem mais simples. Antigamente, pescávamos alguns peixes dos rios ou dos mares e caçávamos outros animais que andavam com suas próprias pernas. Naquela época, não exterminávamos as espécies e o mundo se mantinha naturalmente em equilíbrio. Aprendemos também a plantar alguns alimentos que nasciam da terra. Atualmente, a humanidade poluiu os rios e os mares com a sujeira produzida por ela própria. Também, confinamos animais em grande quantidade para vender e comer suas carnes, mas essas perderam muito do seu sabor original, porque os bichos foram alimentados com ração a fim de engordarem mais rápido. Algumas espécies já foram extintas.
Por último, plantamos enormes extensões de terra com um único produto agrícola, mas para que tivéssemos mais lucro, colocamos muito veneno químico e, depois, consumimos este mesmo alimento.
Para morarmos com nossas famílias, uma caverna servia ou, então, algumas construções de madeira e vegetação que tínhamos à disposição. Mas, hoje, a maioria de nós vive amontoada em cidades de ferro, tijolos e concreto as quais chamamos de zona urbana. Ocorre que esse mesmo espaço vem causando muito estresse e violência.
Para adquirirmos os bens de consumo e os serviços necessários à sobrevivência sem precisarmos pescar e caçar, criamos uma moeda que expressava um determinado valor econômico. Aliás, cada país criou a sua própria moeda. Assim, nasceu o capitalismo, um regime onde quem tem mais moedas tem mais poder e sempre quer mais, o que gerou muitas diferenças sociais e nociva concentração de riquezas. Mas há outros que acreditaram no socialismo, sistema onde, em tese, todos seriam iguais, teriam os mesmos direitos e mesmos deveres. Mas não funcionou como deveria e fracassou em razão da enorme cobiça e corrupção humanas. Enfim, estamos em busca de um sistema melhor do que esses dois, mas, até o momento, não tivemos capacidade de desenvolver algo mais socialmente justo.
Para nos reproduzirmos, assim como os animais, praticamos sexo entre homens e mulheres; isso é uma forma natural. Mas, diferente dos animais, nós, os humanoides, descobrimos o prazer sexual. Daí, a coisa tomou uma proporção impressionante – só vendo pra acreditar!
Para nos proteger do frio e da chuva, nos primórdios usávamos as peles dos animais que matávamos para comer. Hoje, usamos as peles e outras partes desses mesmos animais para fazer artesanatos e adereços vendidos por muitas moedas.
Para vivermos todos em harmonia, a humanidade deveria pregar o amor e o respeito ao próximo, mas, desde sempre, desenvolvemos a “arte da guerra”, seja para nos defender de uma injusta agressão, seja para atacar e dominar o inimigo. Com essa perversa lógica, matamo-nos permanentemente uns aos outros.
Para se divertir, desde sempre a humanidade criou e organizou muitas festas! Danças, canções, comida e bebida fazem parte deste cenário conhecido de todos. Porém, criamos também as drogas lícitas e até as ilícitas, capazes de estragar qualquer reunião festiva.
– Prezado alienígena, espero não ter lhe decepcionado com esse rápido relato.
– Ei, onde você está? Estranho…. será que ele já foi embora?
